Prof. Filipe Nogueira Franco - Bioquímico e Pesquisador da UFMG
As doenças neurodegenerativas são caracterizadas pela perda gradual e progressiva das funções neurais, tanto anatomicamente quanto fisiologicamente. Apesar de diferentes sintomas clínicos, evidências crescentes sugerem que o dano mitocondrial desempenha um papel importante na patogênese dessas doenças.
O Alzheimer é a doença neurodegenerativa mais comum em todo o mundo.
A disfunção mitocondrial relacionada ao estresse oxidativo ocorre precocemente no Alzheimer. Análises post-morte revelaram que os níveis gerais de dano oxidativo a proteínas, lipídios e DNA são elevados em cérebros de pessoas com Alzheimer. Alterações oxidativas em proteínas como a β-amilóide podem resultar em dobras incorretas e formação de agregados. Além disso, a β-amilóide é direcionada para as mitocôndrias, onde foi demonstrado que ela inibe o complexo da citocromo c oxidase.
Associações diretas entre a produção de espécies reativas em oxigênio (ROS) e placas amilóides também foram demonstradas em camundongos transgênicos e em tecido cerebral humano de pacientes com Alzheimer. Foi observada uma diminuição da atividade diminuída do complexo enzimático da α-cetoglutarato desidrogenase em cérebros de pacientes com Alzheimer. Esse complexo enzimático mitocondrial é crucial no metabolismo oxidativo.
No início do Alzheimer, os radicais livres relacionados à idade, que são gerados nas mitocôndrias, são transportados para o citoplasma, onde ativam a β-secretase e facilitam a clivagem da proteína precursora da β-amilóide. Essa molécula clivada gera ainda radicais livres, levando à ruptura da cadeia de transporte de elétrons e atividades enzimáticas, à inibição do trifosfato de adenosina e à subsequente oxidação de proteínas de DNA nuclear e mitocondrial.
Além disso, estudos também mostram que cérebros de pessoas com Alzheimer abrigam mutações somáticas no DNA mitocondrial que suprimem a transcrição e replicação das mitocôndrias, diminuindo a biogênese mitocondrial. Em conjunto, observa-se que o dano causado pelas mitocôndrias leva a danos neuronais, neurodegeneração e declínio cognitivo em pacientes com Alzheimer.
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